Orçamento da Câmara e do Senado para este ano também supera os recursos de 33 dos 38 ministérios
Somente as áreas centrais do governo federal – saúde, educação, defesa, obras de infraestrutura e programas sociais, como o Bolsa Família – consomem mais recursos do que o Congresso Nacional. O orçamento estabelecido para a Câmara Federal e o Senado é superior à previsão de despesas de 33 dos 38 ministérios do governo Dilma Rousseff. Ministérios como o da Justiça, da Integração Nacional, da Ciência e Tecnologia, da Fazenda e dos Transportes recebem menos recursos do que os despendidos para manter a estrutura ofertada a deputados federais e senadores. O orçamento do Congresso Nacional é maior do que gastam juntos os ministérios da Cultura, do Planejamento, de Minas e Energia, de Meio Ambiente, de Esportes e de Turismo.
As despesas expressivas do Congresso Brasileiro são um problema antigo. Um estudo divulgado em 2007 pela ONG Transparência Brasil mostrou que, dentre 12 países, o Brasil ocupava o segundo lugar na lista dos gastos mais altos com parlamentares, ficando atrás apenas dos Estados Unidos. O gasto médio naquele ano, segundo o levantamento, seria de R$ 10,2 milhões por cada um dos 594 parlamentares – 81 senadores e 513 deputados.
Excessos
Para o coordenador da ONG Contas Abertas, Gil Castello Branco, esses valores possibilitam uma discussão sobre a representatividade do Legislativo federal. “O Congresso Nacional é um dos pilares da democracia. E democracia não tem preço. Mas, certamente, o custo é elevado e há espaço para questionamentos. O número de assessores parlamentares e valores de verbas indenizatórias, por exemplo, pode ser discutido”, diz. Cada deputado recebe mensalmente de R$ 23 mil a R$ 34 mil para despesas.
O professor de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB), David Fleischer, aponta os mesmos excessos. “Principalmente no que diz respeito ao Senado, a crítica é de que há muitos cargos comissionados. E o Senado ainda reluta em divulgar informações, como salários”. Para ele, falta transparência na questão das verbas indenizatórias. “Além de ser um valor alto, não é bem justificado, com as notas ficais adequadas”, diz.
No início do mês, o Senado aprovou o projeto de decreto legislativo que suspendia o pagamento de 14.º e 15.º salário para os parlamentares. Nos últimos oito anos, foram gastos R$ 34,6 milhões com os rendimentos extras para senadores. Para Castelo Branco, o cancelamento dessa ajuda de custo é uma prova concreta de que as gastos do Congresso podem ser revistos. “Trata-se de um benefício absolutamente indevido. Os representantes não podem ter um ganho diferente do cidadão brasileiro”, defende. O alto custo do Congresso também está ligado ao subsídio pago aos mais de 594 parlamentares, que recebem R$ 26,7 mil – equivalente ao de um ministro do Supremo Tribunal Federal.
Senado
Ao custo de R$ 500 mil, plano de corte de gastos foi engavetado

Ao custo de R$ 500 mil, o levantamento preparado pela FGV indicava a necessidade de cortar pela metade os cargos de chefia e reduzir o número de servidores em 25%. Segundo o estudo, isso não prejudicaria o gerenciamento da Casa. Isso geraria uma economia de até R$ 7,8 milhões por ano. Mas os senadores não gostaram da proposta e arquivaram o projeto.
Passados três anos, pouca coisa mudou nos gastos do Senado desde o escândalo dos atos secretos (que escondiam a nomeação de diretores e funcionários, que não eram publicados em diário oficial). Apenas alguns cargos foram cortados. Duas outras propostas de reforma administrativa chegaram a ser debatidas. Ambas estabelecem redução de gastos com pessoal. No mês passado, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado rejeitou as propostas.
Colaborou Gisele Barão, especial para a Gazeta do Povo
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