Por Lélia Chacon
Um estudante a caminho de fazer escolhas para o futuro, ao final do ensino médio, precisa basicamente de muita informação contextualizada em conhecimentos, além de aprendizados práticos.
No Brasil, parece que isso significa juntar o ensino técnico profissionalizante com o ensino médio regular. Essa seria a solução para preparar os estudantes brasileiros não apenas para uma escolha acadêmica e profissional, mas principalmente para a vida.
Pode ser a alternativa possível entre nós em meio a tantas carências educacionais, a necessidade de inclusão social e a pressa em atender a um mercado de trabalho mais exigente e em crescimento. Mas quem tem pressa come cru, diz o ditado. Vale correr o risco quando se trata de formar novas gerações para a vida de hoje?
Melhor é pensar grande. Por exemplo, no que propõe uma instituição como a Think Global School (www.thinkglobalschool.org), que oferece nada menos que o mundo como sala de aula a seus alunos, em um programa itinerante apoiado em alta tecnologia.
A TGS tem um ensino médio que faz qualquer um querer estudar ou voltar a estudar. Em 12 trimestres, que completam os três anos do ciclo médio, os estudantes conhecem 12 países, explorando suas culturas.
No currículo, sete disciplinas básicas sustentam o aprendizado: artes, antropologia, literatura mundial, estudos globais (história, geografia e culturas), matemática, ciências (geral e especializadas) e idiomas do mundo, como mandarim.
Há aulas expositivas, pesquisas de campo, palestras de personalidades e especialistas, programas culturais diversos nos locais visitados. Em Estocolmo, na Suécia, os jovens já entrevistaram Hans Rosling, médico, pesquisador inveterado, estatístico e criador de um software que transforma dados pouco atraentes em gráficos divertidos e interativos. Na Austrália, nas praias de Sidney, realizaram pesquisas sobre populações marinhas. Aprenderam técnicas de mergulho, usaram a geografia para traçar suas investigações e também a matemática para tratar dos dados apurados.
No Think Blog, espaço virtual dos alunos, há várias outras situações de aprendizagem para demonstrar como eles exercitam o que aprendem em situações da vida real. Os professores são provedores de conteúdo, mentores e guias, mas também aprendizes em absoluta educação continuada.
A fundadora do projeto é Joann McPike, uma mãe motivada a encontrar uma educação diferenciada para o filho, combinando-a com o hábito familiar de viajar. O garoto, diz ela, já visitou 70 países, “tocando, cheirando, provando, vendo e sentindo o mundo. Aprendeu independência, coragem, empatia. Conversa com cidadãos diversos uma infinidade de assuntos. Não tem medo de oferecer uma opinião”, destaca a mãe.
Educadores brasileiros mostram muitas vezes resistência a soluções educacionais de outros países. Acreditam que não nos servem, por mil e uma circunstâncias. A Think Global School é um projeto de elite, ainda que ofereça bolsas de estudo integrais e parciais a alunos que não podem pagar o alto custo do programa (mais de 100 mil dólares anuais). Mas inspiração é de graça, e o que importa é nivelar nossa criatividade, políticas e aspirações por cima e não por baixo.
* Lélia Chacon é jornalista e editora do site e revista Onda Jovem, do Instituto Votorantim
Fonte: Artigo publicado originalmente no jornal Brasil Econômico no dia 7/03/2011
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